Segundo o Renan, a Lindalva era só mais uma puta por quem eu tinha me apaixonado, o que explicava ele estar me levando para um puteiro. Mas, segundo o Renan, todas as mulheres eram putas, principalmente aquelas por quem eu me apaixonava. Por isso era mais prático gastar cinqüenta reais num puteiro, do que levar mulher para jantar, pagar motel, ligar no dia seguinte - as putas não queriam que ele ligasse.
"elas fazem de tudo, tem que ver!"
(BRAGA, Renan)
O lugar tinha o cheiro que as doenças venéreas devem ter e era recheado de loiras cujos cabelos brilhavam na luz negra - única iluminação da casa. Sentei numa cadeira de estofado de couro vermelho - rasgado - e pedi um drinque, para entrar no clima. Uma das loiras pôs o salto do sapato - branco, plataforma, 20 centímetros - levemente sobre meu sexo e começou a dançar uma espécie de dança do ventre improvisada e decadente - pseudo-sensual.
O estômago embrulhou. Elas prostituíam as almas e os corpos com um desapego invejável. Pensei na Lindalva e no seu excesso de apego, nas doze ligações diárias. A Lindalva era só mais uma puta, devia ouvir o Renan. Busquei o telefone no bolso dianteiro da calça, puxei o número da memória – tinha apagado do celular.
“Lindalva, vem me buscar que eu estou odiando.”
(MESMO, eu)
Eu não queria que ela entendesse e nem pretendia explicar o porquê de eu estar num puteiro, quando tinha mentido que estava visitando minha mãe no hospital. Mas eu não queria estar lá, e me parecia uma boa justificativa – eu estava errado.
Saldo da noite foi zero Lindalvas, uma puta e doze uísques paraguaios. Só sobrou o gosto azedo de deixar princípios para trás. Mas afinal, eram todas putas mesmo, não faria diferença.