11.7.11

Esse bicho estranho sou eu.
essa coisa no espelho que agora me olha perguntando que bicho estranho é esse.

mirando a jugular, a me julgar

não podemos co-existir: eu e esse bicho, compartindo o mesmo corpo, mesmo espaço, mesmo tempo. As aulas de física não serviram para nada. Quem era eu nelas?

Bicho estranho: diga-me a que veio, e quem levou minha paz morna de padaria. quem assassinou a calma e te deixou como única testemunha? quem abriu a jaula para meu eu-agora-ex-ex-eu?

Agora abrir a caixa, reaprender a dizer que. Quanto trabalho nos custa?

Ah, essa outra bem-sucedida que liga para casa e diz saudade, essa palavra tão saudosa, e conta do novo emprego e das economias que tem porque-nunca-se-sabe e essa outra bicho estranho que sai a caminhar sem rumo porque afinal-não-há-nada-mais-que-caminhar-nessa-cidade. Ou essa uma de jantar requentado e pudor, que fica vermelha de vergonha - veja só, coisa que essa outra nunca teve!; mas essa outra nunca teve muita coisa, afora um sarcasmo ácido, um riso alto e um pranto contido. Mas o que mesmo tinha essa uma, além de um emprego orgulhoso e alguma dose de moral?

(Somos tão antagonistas que penso que essa uma é muito jovem, que engatinha ainda e talvez sempre engatinhará, visto que não é do tipo que evolui muito; enquanto aquela outra não sabe ser a mesma por mais que tente, por mais que oitenta segundos, tanto que já foi, inclusive, aquela uma.)

4.7.11

EM UMA GAIOLA

Há uma pinha em uma gaiola
- mas eu vejo uma coruja

Há uma pinha em uma gaiola
E eu quero que ela voe

Aquela pinha voaria, eu garanto
(Mas o senhor que a pôs ali não quer soltá-la)

Há uma pinha em uma gaiola
... e ela não pode voar!