7.4.09

A MULHER DO REITOR

Avistou os cabelos presos da mulher do reitor saboreando um frango grelhado. O ponteiro do relógio percorria quilômetros entre uma mastigada e outra. Já seria primavera quando parasse de comer - as quartas-feiras frias como aquela seriam passado.

Mas ele só foi ao bar porque sabia que ela estaria lá. Ainda não havia lavado as mãos que carregavam o cheiro dela, da mesma forma que, na lembrança, carregava a textura daquelas coxas mais duras que a idade supunha.

Ele ensaiou um sorriso ignorado. Ela podia sentir que a boca dele não portava os sisos, menos por extração que por idade, mas era na boca de mulher que ele se concentrava. Naquela mastigação satiricamente demorada.

Pela primeira vez, Luís sentiu um sangue confuso arrepiar-lhe os pêlos adolescentes. A constatação inocente de que o frango exigia da mulher mais tempo que ele havia exigido.

MÚSCULO

As fotos presentes no álbum retratavam menos do que as dele haviam partido em direção à fogueira. As desertoras estavam mesmo destinadas às cinzas.

No fogo, dividiam lugar com cartões apaixonados, um coração de pelúcia e um músculo qualquer, outrora usado para bombear sangue.

ALZHEIMER

Há 15 anos parada na sala, Rita espera o filho voltar da escola. Todo dia, às 17h. Com poucos passos, alguns suspiros e menos palavras, apenas espera a chegada do filho. Permanece ali, quase inerte.

Quem chega é o marido, que retilineamente lhe mostra a foto do filho e lembra que querida, ele não voltará da escola hoje.

6.4.09

CICUTA

O que não mata, engorda, brindou a anoréxica.