28.4.08

A ARTE DE APRENDER A VOAR

Todos os jornais estampam o triste drama da menina Isabela, jogada pela janela há cerca de um mês. A menina ainda revira-se no caixão e é ressuscitada diariamente em noticiários de todos os tipos, mesas de bar, discussões em família e textos de pretensos literatos.

Há também um consenso entre especialistas das mais diversas áreas - de estatísticos a secretárias - sobre a culpa do pai e a crueldade com que o crime foi cometido. O assunto, como todos pudemos acompanhar, é de extrema relevância para a sociedade.

Mas está morta. Nenhum rito de magia negra a trará de volta à vida - é simples, ela não irá contar a ninguém a sua visão dos fatos. Então, eu, com o conhecimento sobre o caso próprio de um perito em leiguice, conto a minha.

Eu advogo em prol do pai.

Ele, extremamente afetuoso, portou-se como uma das várias espécies de pássaros que, na tentativa de ensinar a seus rebentos a arte do vôo, os empurram para fora do ninho, até que este aprenda a voar. Esses pássaros sabem o bem que fazem a sua prole, pois a comunidade pássara espera deles que saibam voar e, se não for com seus progenitores, com quem hão de aprender? O pai de Isabela, bastante atento aos acontecimentos da natureza, achou-se no direito de voltar às origens e tentar ensinar a filha a arte do vôo. Está certo, entendo que talvez o ato possa parecer um tanto retrógrado para alguns, mas é direito inerente ao homem a liberdade para escolha de estilo de vida que lhe agrade.

O ato daquele pai foi um ato apaixonado, digo. Prezando pelo bem e pela evolução de sua filha, como tantas espécies de pássaros fazem e fizeram ao longo do tempo. E é graças àqueles pássaros atentos às necessidades de seus pequenos, que podemos hoje acompanhar o vôo de diferentes gerações.

Mas é que o povo gosta de sangue e quer um assassino truculento em cada esquina (há boatos de que o novo plano de governo, inclusive, será Tragédia para todos).

As pessoas, definitivamente, não sabem ver a beleza que há por aí.