COMO SE A VIDA NAO FOSSE UMA EMERGÊNCIA

Indiferente, ignorava a pressa
Como se a vida nao fosse uma emergência

Sob protestos
acompanhado da calma
Contaste que não te faz falta a urgência

Mas que bobagem
Passar a vida em paz e se gabar de ter paciência

Enquanto lá fora ainda há gente que chora e eu grito e saio apressada rumo ao destino
que ocorre nos próximos cinco minutos

JOVEM GEOGRAFIA

Queria conhecer as cicatrizes de tua jovem geografia
Entender o teu relevo
Esquecê-lo em poesia

Entre copos
contar-te num sorriso
que te fiz rima

DUPLA PROJEÇÃO

Em ti vejo o ele que esperei

E quando sem planejar me vês
É minha vez de ser imagem
daquela que já disse adeus

UM VERBO

Não saber é uma arte -
um domínio raro,
fazer do talvez um verbo.

Mas há também
- impossível olvidarlos -
aqueles que apenas não sabem
sem saber o porquê

ABRIGO

Dá saudade daquela simplicidade

de um guarda-chuva que se perdeu

na tempestade em que trocamos

o suor pelas gotas de chuva

E no calor de um fevereiro tão curto

esquecer que existe inverno

e mesmo assim

querer fazer do teu sorriso um abrigo

PIEDRAS

Me acompanhou até em casa

Com uma sacola cheia na mão direita

E um adeus quase vazio na esquerda

Como certeza, me deixou apenas um talvez sem data marcada

Esse calor extravagante

E a espera de novas despedidas

ENTRE RIOS

Gosto de palavra não dita

Silêncio na noite fria

Beijo. Beijo. Bem na medida

5 passos, diz.

E volta com cara de adeus

Abro a porta para não me despedir